Redação IPS
Nova York, Estados Unidos, 24/5/2012, (IPS) – A Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, foi descrita como uma das maiores conferências internacionais da história da Organização das Nações Unidas (ONU).
![Tommy Koh, presidente do Comitê Preparatório da Cúpula da Terra de 1992. Crédito: Cortesia de Tommy Koh](http://www.ips.org/TV/rio20/wp-content/uploads/2012/06/e316.jpg)
Tommy Koh, presidente do Comitê Preparatório da Cúpula da Terra de 1992. Crédito: Cortesia de Tommy Koh
Contudo, assim como os preparativos para a Rio+20, as negociações naquela época se sucederam até quase o início do encontro. Os 20 mil participantes da histórica cúpula, entre eles mais de cem governantes, reafirmaram de forma inequívoca que o meio ambiente faz parte integral do desenvolvimento, aprovaram a Agenda 21, um plano global de ação para o desenvolvimento sustentável, e a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Em 1992 também foi aprovada a Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática e o Convênio sobre Biodiversidade, e foi criada a Comissão das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. O embaixador Tommy Koh, presidente do Comitê Preparatório da Cúpula da Terra, reconheceu que as prolongadas negociações “foram muito difíceis”, e que se estenderam até o último segundo. Koh recordou que houve quatro sessões, duas em Genebra, uma em Nairóbi e outra em Nova York, e que para as últimas negociações já estavam com a água no pescoço, pois os líderes mundiais estavam para chegar ao Rio de Janeiro.
“No último dia, as negociações duraram toda a noite, até seis horas da manhã do dia seguinte”, contou, referindo-se às reuniões de junho de 1992. Na época, “não sabia se conseguiríamos ou não”, acrescentou. “Na qualidade de presidente das negociações no Rio de Janeiro, estava decidido a conseguir e a superar as divisões e outros obstáculos com paciência, determinação e uma forte liderança coletiva”, destacou.
Koh também foi embaixador de Cingapura nos Estados Unidos e presidente da Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, onde foi adotado um tratado internacional sobre os oceanos, na década de 1980. Agora, prepara-se a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), de 20 a 22 de junho, da qual participarão cerca de 70 mil pessoas, incluindo cem governantes, ou seja, mais do que o triplo de duas décadas atrás, segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
IPS: Como caracterizaria os êxitos e os fracassos da Cúpula da Terra? Pode dizer que apresentou resultados duradouros e tangíveis?
Tommy Koh: Houve uma mudança de modelo no mundo. Graças a essa cúpula, os 193 Estados-membros da ONU têm um Ministério de Meio Ambiente ou agências de proteção ambiental. Em todos os países, o desenvolvimento sustentável é a norma.
IPS: Que impacto teve no Sul em desenvolvimento?
TK: No mundo em desenvolvimento não há lugar para quem acredita no desenvolvimento a qualquer preço ou em primeiro enriquecer e depois limpar. Creio que estes são êxitos tangíveis da Cúpula da Terra.
IPS: Duas décadas depois existem céticos assinalando que o meio ambiente global foi de mal a pior pela contaminação de gases-estufa, a mudança climática, o desmatamento, o consumo ostentoso de alimentos, água e energia, o crescimento populacional, e a destruição gradual de ecossistemas marinhos. Qual sua opinião?
TK: É uma verdade lamentável que não conseguimos em escala global reduzir as emissões de gases contaminantes nem diminuir a perda de florestas, de habitats naturais e de biodiversidade, e nem conseguido uma boa gestão dos oceanos. Porém, em escala nacional e regional houve avanços significativos. Em Cingapura, por exemplo, o amor à natureza e o desejo de viver em harmonia com ela está crescendo. Apesar de nossa alta densidade populacional, 47% de nosso território tem uma exuberante vegetação. Cingapura também liderou uma iniciativa para conseguir apoio de todas as partes do Convênio sobre Biodiversidade para adotar o Índice de Biodiversidade da Cidade de Cingapura. Conseguimos um tremendo avanço no uso eficiente de água e na reciclagem de água residual. A opinião pública está totalmente a favor da tendência de se construir edifícios verdes, dispositivos de baixo consumo e tecnologias verdes.
IPS: O atual Comitê Preparatório continua dividido, também segundo a linha Norte-Sul, sobre o plano global de ação para um futuro sustentável que será adotado no mês que vem. O quanto foram difíceis as negociações para a Agenda 21? Algum conselho para os que estão realizando esse trabalho agora?
TK: O mundo se tornou mais interdependente, mas, ao mesmo tempo, mais dividido. Os Estados Unidos enfrentam uma recuperação fraca e uma eleição presidencial. A União Europeia (UE) busca restaurar a confiança do euro para reduzir sua dívida soberana e estimular o crescimento. São tempos difíceis para o Ocidente. Para eles, será custoso tomar decisões difíceis e assumir compromissos. Contudo, há muito em jogo. Fracassar não é uma opção. Confio que a Rio+20 será um êxito.
IPS: Como a Cúpula da Terra fez para cumprir as demandas de fundos dos países em desenvolvimento?
TK: As demandas foram atendidas de três formas: mediante a criação do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), com o aumento da assistência oficial ao desenvolvimento e, especialmente, ao desenvolvimento sustentável, e com os compromissos com várias instituições internacionais financeiras e de desenvolvimento.
IPS: Que influência o informe da Comissão Brundtland sobre meio ambiente global teve na Cúpula da Terra?
TK: Foi uma inspiração para meus colegas.
Envolverde/IPS (FIN/2012)